João Gil, Artistas, Compositor, Musico, Cantor João Gil, Guitarrista, Trovante, Ala dos Namorados, Filarmónica Gil, Espectáculos, Musicas, Canções do João Gil
João Gil
12 Dezembro, 2018
Ana Laíns, fadista, Musicas, Canções, Fadista Ana Laíns, contactos, Fadistas, cantoras portuguesas, Fado, Portugal, Artistas, contactos, Musicas portuguesas
Ana Laíns, Fadista
22 Novembro, 2018

Chico da Tina, Rap, Hip-Hop, Português, Musica Portuguesa, Sampling, Alternativa, Artistas, Contactos do Chico da Tina, Musica do Chico da Tina

Chico da Tina

Chico da Tina, que é como quem diz “Francisco da concertina”, é uma proposta meta-irónica do trap subvertido ao linguajar e costumes do universo minhoto. No entanto, para além desta “colagem” estética entre dois polos que à primeira vista poderiam ser opostos, há um atrevimento lírico que se pretende afirmar pelo desafio ao politicamente correcto e aos limites da linguagem que ultimamente se têm vindo a estreitar. Com números impressionantes no YouTube, o músico natural de Viana do Castelo já possui um EP lançado com 5 faixas repletas de letras críticas e caricaturais que, juntamente à sua imagem, criam uma combinação inédita entre o trap, a concertina e as gírias regionais, unindo a tradição e a modernidade. (in)

Canal YouTube

Facebook Chico da Tina

Chico da concer’Tina Instagram

Vídeos Chico da Tina


Chico da Tina – Sou Rei (Prod. GUILHERMENZ)


Chico da Tina – Põe-te fino (Prod. KESLLEY)


Chico da Tina – Resort (prod. GUIRE)

Chico da Tina – FREICKEN – (Prod. BEJAFLOR & CO$TANZA)

Chico da Tina – DEITEI TARDE ACORDEI LATE (Prod. KESLLEY)

Chico da Tina – VianaViceCity (prod. KESLLEY)

Chico da Tina – Romarias (Prod. BEJAFLOR & CO$TANZA)

Chico da Tina – Minho Trapstar (Prod. BEJAFLOR & CO$TANZA)

Chico da Tina – Mobilete (Prod. KESLLEY)

Ser ou não ser, eis a questão que não importa com Chico da Tina
(noticia Publico de Julho de 2019)

O primeiro vencedor do Prémio Mimo de Música actua este sábado em Amarante. Em Outubro, a trapstar segue para a edição brasileira do festival. O skater de concertina às costas, que é tão fictício quanto real, lançou o EP de estreia, Trapalhadas, no início do mês.

Chico da Tina, Rap, Hip-Hop, Português, Musica Portuguesa, Sampling, Alternativa, Artistas, Contactos do Chico da Tina, Musica do Chico da Tina

O professor universitário e assessor de imprensa Manuel Dantas não é de resumir, é-lhe impossível escrever pouco, mas faz o melhor que pode para apresentar um pouco de Chico da Tina: na sua obra, há uma “fricção entre passado e presente”, “tradição e mudança, aldeia e cidade”. As suas reflexões, dignas de estante poeirenta de biblioteca, encontram-se na página do artista no Genius (um site para interpretações de letras de música). Algumas viajam do século XIX até nós, à boleia do estudo intensivo da “obra Tiniana” por outros professores, todos eles habitantes deste universo que Francisco — rejeita dar-nos o seu último nome — criou.

“É como se falassem de mim para a imortalidade”, explica. Aqui, existem “incoerências lógicas” propositadas. Há duas pessoas numa só: o Chico rapper e o Francisco, de 23 anos, que às vezes se confunde com o primeiro. Não se quer dar a conhecer, nem tão pouco indica a sua formação ou percurso, porque isso “iria catalogar” o que tem vindo a fazer. É um skater de Viana do Castelo tornado rapper, a deslizar, sobre rodas, de concertina às costas. Chico da Tina (diminutivo para Francisco da Concertina) é uma trapstar que nos deixa na dúvida, suspensos.

Acompanhámo-lo em gírias, expressões, palavras e palavrões afiados, numa “proposta meta-irónica” saída do encontro entre Minho e Estados Unidos. E a fórmula trap-e-concertina já deu frutos: foi o primeiro vencedor do Prémio Mimo de Música e isso quer dizer que, entre os candidatos, recebeu o maior número de votos. Por isso, este sábado, 27 de Julho, soltará versos com ironia q.b. no festival Mimo, em Amarante, às 20h. A directora do festival, Lu Araújo, teceu-lhe, em comunicado, alguns elogios: para além de apontar a “linguagem particular e ousada”, refere-o como “um grande artista de Viana do Castelo, com muito potencial”. Em Outubro, actuará na edição brasileira do mesmo festival. Pelo meio, há concertos em Barcelos, Cristelos (Paredes) e Lisboa.

Trap com sabor a cabidela e sarrabulho

No YouTube, Põe-te Fino está a chegar às 400 mil visualizações. Lançada há um par de semanas, Musa, onde o ouvimos a arrastar um francês sedutor que se cruza com outras línguas, tem 82 mil — é o “vídeo mais intenso de 2019!!!”, lê-se no título da faixa. O primeiro EP, Trapalhadas, é o pontapé de partida do antigo defesa-direito da União Desportiva de Lanheses. Foi lançado no início de Julho e está disponível no Bandcamp. Na capa, vê-se a camisola da selecção portuguesa com um lustroso colarinho verde, a concertina aberta com um fole dourado. Há sempre um certo cuidado estético, nem que seja nos pêlos do peito cuidadosamente aparados em forma de triângulo. “Podia virar tendência.” Fica o desafio.
Tem “destreza nos dedos” para a concertina, que bem se ouve em Põe-te Fino, canção em forma de aviso quase canibal: os intestinos dão alheiras, a “pele sebosa dá um casaco jeitoso”, o resto para a panela para se manjar um arroz de cabidela. Mais apontamentos gastronómicos minhotos são apanhados noutras faixas, como Deus nos Livrai: “Mas eu arroto sarrabulho, vocês mendigam fast food.” Em GUXI, que não há cá Gucci, vai à feira do Campo da Agonia, compra “a carrinha inteira” e ciranda com “pinta e flex à maneira”. É trocar as voltas a uma das tradições no rap: a exaustiva ostentação de bens de grandes marcas.

O Chico ainda está a descobrir-se
É tudo “real” no universo de Chico, como explica, sem rodeios: “Até à data, estou inapto para rimar sobre algo mais que não as minhas próprias vivências.” Só que em ponto exagerado, quase caricatura. O seu objectivo é manter a personagem em primeiro plano. Ele tenta sintetizar este processo: “A biografia do Chico é a minha, mas alterada.” É como se fosse um exercício: brinca com a verdade, acrescentando-lhe fantasias e traços de personalidade, e cada um escolhe a sua. E isso acontece, em parte, porque Francisco ainda está para saber quem é Chico da Tina: “Há coisas que nem eu próprio sei explicar porque estou ainda a descobrir o que isto é.”

Num território onde se dilui a realidade e a ficção, afirma ser apenas uma trapstar sem aspirações a mais nenhum título: mas sê-lo acarreta explorar outros caminhos, “implica que o conteúdo seja de âmbito universal, é um símbolo que remete para muitas coisas”. Tanto é muitas coisas numa só como pode deixar de ser, jogando com a audiência. A verdade pode ser um ponto de vista. Francisco prefere trilhar um percurso alheio, com direito à privacidade, mas mostrando um pouco de si através de Chico da Tina um pouco por todo o lado.

Ele não se importa que se tente adivinhar o que há para lá do EP, do seu estilo, das poses, das letras: “Acho que é bom, só uma pessoa muito limitada encerra a sua visão. É saudável, até as coisas mais absurdas devem ser objecto de divagações.” No fundo, cada um escolhe o que quer ver e ouvir com Chico da Tina. E qualquer que seja o caminho (mais ou menos) filosófico tomado, o rapper já deixou num tema a questão que os fãs lhe podem colocar: “Chico da Tina, deixas-me ser teu amigo?”

Artistas Portugueses